sexta-feira, 20 de novembro de 2009


Cancioneiro do Cacau

CYRO DE MATTOS

Faltava na literatura nascida na terra do cacau, uma obra poética de fôlego que cantasse uma saga feita de sonhos e ocasos, urgências e perigos, mistério, cobiça e morte em torno da conquista da terra. Neste "Cancioneiro do Cacau", o baiano Cyro de Mattos elabora uma obra poética digna de um verdadeiro poeta. sentimento telúrico e uso de recursos expressionais do discurso poético, disso resultando um autêntico macrotexto no qual se vê sentimento de mundo, humanismo social e fôlego criativo unidos de maneira harmoniosa. O poeta baiano de Itabuna consolida em "Cancioneiro do Cacau" notável trajetória poética dedicada à poesia. Uma poesia marcada pela sua origem geográfica, inundada pelas paisagens, bichos e figuras das "terras do sem fim". A labuta diária, as cidades, as imaginações, os recantos, os transportes, a colheita constante, os tempos atuais de desencontro emergem de uma voz que é alma, força e vida. Histórias transformadas em linguagem poética, neste cancioneiro lírico e realista onde confluem e se reconciliam a vida e poesia para a festa. Intenso de referenciais que identificam os signos da vida e do homem. É também uma busca dos caminhos da infância, dos caminhos que passam pela anca dos rios, serra e baixadas onde burros que vencem a solidão vão deixando marcas dos reinos conquistados, salpicados de flores e frutos....
Entrevistado: Cyro de Mattos - Presidente da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (Ficc)

Não se pode exigir mais do que a Ficc vem fazendo, afirma Cyro

Jornal Agora – Qual a avaliação que a Ficc faz sobre a I Conferência Municipal de Cultura e Cidadania?

Cyro de Mattos – Esta foi a primeira vez no município de Itabuna que um espaço dessa natureza, criado por uma instituição cultural como a Ficc, propiciou o encontro de representantes do governo e entidades artísticas, culturais, produtores, artistas, gestores, educadores, comunicadores, gente dos bairros, enfim, pessoas interessadas direta ou indiretamente em discutir os aspectos fundamentais da história, memória, valores e políticas públicas. Tudo foi feito com o propósito de ordenar e desenvolver a cultura de Itabuna, em sua dinâmica que é rica como resultante da necessidade que tem o ser humano de comunicação em convívio com os outros, em determinado lugar.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Fonte: www.edukbr.com.br/

CYRO DE MATTOS

Escritor, poeta, advogado e jornalista, nasceu em Itabuna, sul da Bahia, em 1939. É membro da Academia de Letras da Bahia. Estreou como ficcionista com o livro de contos Os brabos (Prêmio A fonso Arinos, Academia Brasileira de Letras). Como poeta publicou, entre outros, Vinte poemas do Rio e Cancioneiro do Cacau. Prêmio Nacional Ribeiro Couto, Prêmio Centenário Emílio Mora, da Academia Mineira de Letras e Indicado para o Prêmio Jabuti 2002.

Publicado em Portugal, Estados Unidos, Rússia, Dinamarca, Alemanha, Suiça e México.


LUGAR

Entendo ser real
Estar na relva
Como meu canto
Sedento de amor.
Neste rumor secreto
Verde minha palavra
De brotar em cada um.
Se não sou semente
Dos sonhos que beijei
Cantando na chuva.
Lá dentro trancado.
Cúmplice do eterno
Riscado num instante
Direi não sou de fato
E no caos desencanto-me.


LUGAR (II)

Ainda que seja
Um grão no deserto
A palavra é meu lugar
Onde tudo arrisco.
Irriga minhas veias
Como a chuva à terra
Em suas mil línguas.
Antiga, bem antiga,
Me anuncia no vale,
Me consuma real,
Viajante cativo
Da solidão solidária.
Sem esse jeito
De ser flor e vento.
Sonho e música,
Palavra só amor.
Não há espanto,
A lágrima, o beijo,
O riso, o epitáfio.
Não há o sentido.


A PALAVRA AUSENTE

Não existisse
Com seus limites
Diante do mundo
Sem interrogar o tempo
De Deus ou por acidente
Onde bem ou mal
Sinto-me um bocado,
Revejo-me no outro
Como a mim mesmo
Por certo o deserto
Não ia me afigurar
Desencanto e solidão,
Metáfora do nada.
Ao ruído dos dentes,
Que tudo muda,
Urde fragmentos, sonhos,
Que sentido haveria
O silêncio de tudo,
Fundo, profundo?
Jamais o convite ao amor,
À saudade, à razão, à fé,
Contradições que me fazem
Inocente na travessia,
Do inexorável submisso..


A PALAVRA PRESENTE

Dá vôo à razão
Na leitura do mundo.
Equilíbrio nos vazios
Por entre mistérios
Que soam absurdos.
Simulação do real
Na emoção do ser elo
Íntimo das coisas.
Ritmo agudo do ver.
Ouvir e falar silêncios
Onde me usa o amor
Resvalando na vida
Que o tempo engole.
Nas litanias do mal,
No refrigério da relva
Fogo eterno de cantores
Desde não quando.


BOVINO

Ruminante a flor.
Culpado mas sem pecado.
Morre sem rancor.



Textos extraídos de POESIA SEMPRE, Ano 13, n. 20, março 2005. (Publicação da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro) p.1-01-105

Página publicada em maio de 2008

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De
POEMAS ESCOLHIDOS
Segundo Prêmio Literário Internacional
Maestrale Marengo d´Oro – Gênova, Itália, 2006
São Paulo: Escrituras, 2007
(Edição bilíngüe Português-Italiano)


O MENINO E O MAR

Era a primeira vez
Que o tinha ido ver o mar.
Todo alegre, de calção,
Peito nu e pé no chão.

Quando viu tanta água
Fazendo barulho
Sem parar, disse:

— Pai, me dê a mão.


RIO MORTO

Vejo tua face invisível
Na claridade das águas,
Espumas lavadeiras nas pedras
Diversicoloridias de roupas.
O céu azul de nuvens mansas.
A lua derramando prata
No areal deixado pela cheia.
Eu sou aquele menino
Que engoliu tua piaba
Para aprender a nadar.
Eu sou aquele menino
Que pegou tuas borboletas
Nos barrancos voando em bando
Eu sou aquele menino
Que sentiu com tuas boninas
A proposta livre da vida.
Eu sou aquele menino
Magro, esperto, traquino
Em tua paisagem luminosa.
Não havia, amor, dúvida,
Ares sombrios pegajosos
Cobrindo tua ilha com tesouro
Guardada por almas de piratas.
Nessa manhã de banho ausente,
Susto nos peraus e remansos,
O sol sem vidrilhar a correnteza,
Tristes meus olhos testemunham
Tua descida pobre e monótona.
Tua morte lentamente com sede
Inventada nas bocas de vômito...
Cachoeira o teu nome
Do rio que chora água.


DUNAS

Ilumino-me
de imenso.
Ungaretii

No sempre
Do vento.
No agora
Do silêncio.
Iluminado
Em solidão.


O EVENTO TERNO

Sentido não haveria
Do aroma sem canto.
A aderência perfeita
Toca o mistério,
A natureza se impõe
Na luz deste céu sonoro.
Na nervura da pétala,
Tremor translúcido,
O pássaro tece e acontece.
Entrevistado: Cyro de Mattos - Presidente da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (Ficc)

Não se pode exigir mais do que a Ficc vem fazendo, afirma Cyro
Jornal Agora – Qual a avaliação que a Ficc faz sobre a I Conferência Municipal de Cultura e Cidadania?
Cyro de Mattos – Esta foi a primeira vez no município de Itabuna que um espaço dessa natureza, criado por uma instituição cultural como a Ficc, propiciou o encontro de representantes do governo e entidades artísticas, culturais, produtores, artistas, gestores, educadores, comunicadores, gente dos bairros, enfim, pessoas interessadas direta ou indiretamente em discutir os aspectos fundamentais da história, memória, valores e políticas públicas. Tudo foi feito com o propósito de ordenar e desenvolver a cultura de Itabuna, em sua dinâmica que é rica como resultante da necessidade que tem o ser humano de comunicação em convívio com os outros, em determinado lugar.
Compareceram quase 300 pessoas à I Conferência para discutir o fazer cultural de nossa cidade e propor estratégias. Estabelecer mecanismos políticos que foram abordados em eixos temáticos, como Produção simbólica e diversidade cultural; Cultura, cidade e cidadania; Cultura e desenvolvimento sustentável; Cultura e economia criativa. Ficou evidente no evento que a cidade tem um corpo cultural interessado em exercer a cultura como um direito fundamental do cidadão, fator de desenvolvimento econômico e caminho de inclusão do indivíduo na sociedade, livrando-o da atividade de risco e do ócio. Cultura, assim, traduzindo o exercício de uma prática política democrática, transversal, abrangente, pragmática e transformadora da realidade social, como não se cansa de recomendar com a sua sensibilidade o prefeito José Nilton Azevedo Leal